Julgo que foi Ernest Hemmingway, consagrado escritor norte-americano e laureado com o Prémio Nobel, quem afirmou que todas as guerras são criminosas. Completaram-se, no passado dia 4, cinquenta anos sobre o início da Guerra Colonial, uma guerra igualmente criminosa que o regime fascista, derrubado em 25 de Abril de 1974, manteve em África durante treze longos anos.
Esses treze anos de confrontos exigiram o destacamento de 169 mil homens, maioritariamente jovens: 70 mil para Angola, 42 mil para a Guiné e 57 mil para Moçambique. Segundo a Resenha Histórico-Militar das Campanhas de de África (1961-1974), registou-se um total de 8 290 mortos, nas três frentes de guerra. A este número há a juntar 112 000 feridos, dos quais 30 mil terão sofrido deficiências para toda a vida, e perto de 100 mil vítimas do stresse de guerra, que ainda os apoquenta actualmente.
Dos jovens aboinenses de então, se alguns, emigrando para o estrangeiro, se tornaram refractários para não participarem numa guerra que não era sua, outros houve que foram obrigados a combater nas ex-colónias portuguesas então em guerra. E se no regresso vinham todos – parafraseio deliberadamente o título do livro de Vasco Lourenço, um dos capitães do 25 de Abril - , um deles não escapou de ser ferido numa escarumuça na Guiné, em Junho de 1967. Trata-se de Manuel da Silva Moura, um amigo que, hoje com mais de 60 anos, entretanto emigrou para França, região parisiense, onde vive actualmente e goza de merecida reforma depois de ter trabalhado muitos anos na construção civil, nos últimos como encarregado de obras (chef de chantier).
Com a expressa autorização do autor (a quem agradeço reconhecidamente) e com a devida vénia, transcreve-se a seguir o relato do acontecimento, narrado por quem o viveu de perto.
“S. Domingos, 27 de Junho de 1967

Eram 18 horas, quando as nossas forças regressaram ao aquartelamento. Foi mais um dia de grande sofrimento, com peripécias à mistura, como aquela dos bêbados e drogados”.
Diário da Guerra Colonial – Guiné 1966-1968, Luís de Matos, Edição do autor, 2009, pág. 103-104
GLOSÁRIO (retirado do livro de Luís de Matos):
Bolanha – Arrozais em geral rodeados de pequenas florestas.
IN – Inimigo, os guerrilheiros do PAIGC
NT – Nossas tropas
Tabanca – Casa, palhota, conjunto de habitações dos negros. Este termo, também é utilizado para denominar as casas dos nossos militares.
NOTAS (de RLCerqueira):
Nota 1: Os lugares e as povoações de Cassolol, Suzana, Indiame, Catetia e Varela integram o sector de S. Domingos, na região do Cacheu (actualmente a Guiné-Bissau divide-se administrativamente em regiões e sectores), localizando-se no noroeste do país, a pequena distância da fronteira com o Senegal. A luta armada na Guiné-Bissau foi iniciada em Julho de 1961 pelo Movimento de Libertação da Guiné (MLG), posteriormente prosseguida pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), com ataques às povoações de S. Domingos, Suzana e Varela, localidades onde também existiram aquartelamentos das tropas portuguesas, que actualmente se encontram em ruínas.
Nota 2: Segundo Luís de Matos, o aboinense Manuel da Silva Moura, com a especialidade de soldado atirador, serviu na ex-colónia da Guiné entre 1966 e 1968, integrando a secção chefiada pelo Furriel Miliciano Mário Manuel F. Cardoso Silva, que pertencia ao 3° Pelotão dirigido pelo Alferes Miliciano Júlio Morgado Rodrigues, da Companhia de Caçadores n° 1590 comandada pelo Capitão Aires Jorge Costa Gomes, pertencendo esta ao Batalhão de Caçadores n° 1894.
Nota final em jeito de apelo: Agradece-se a quanto nos lêem que nos forneçam informações sobre aboinenses que participaram na Guerra Colonial, indicando-nos o nome, a ex-colónia onde serviram e as respectivas datas. O administrador deste blogue manifesta-se desde já muito grato.
Eduardo Teixeira Lopes
ResponderEliminarFilho de Aboinenses a saber:
António de Andrade Lopes e Laurinda Teixeira da Silva ambos naturais da Portela
Cumpriu missão na Provincia da Guiné de 1970 a 1972