04/01/2018

Pe. Monteiro da Costa foi pároco de Aboim durante 57 anos


Natural de Rebordões, uma freguesia do concelho de Santo Tirso onde predomina a indústria têxtil, ele próprio oriundo de uma família operária, José Augusto Monteiro da Costa, nascido a 20 de Fevereiro de 1932, tinha 12 anos de idade quando ingressou no Seminário de Trancoso, em Vila Nova de Gaia. Seguir-se-iam o Seminário de Vilar (do 3º ao 7º ano) e o Seminário Maior, na Sé do Porto (do 8º ao 12º ano).
Foi ordenado presbítero a 22 de Dezembro de 1956, na Sé Catedral do Porto, por D. António Ferreira Gomes. Celebraria a sua Missa Nova, a 30 do mesmo mês, na igreja paroquial de S. Tiago de Rebordões.
Nomeado, em Março de 1957, coadjutor da paróquia da Sé, no centro histórico do Porto, acompanhou de perto e viveu intensamente os acontecimentos que levariam D. António Ferreira Gomes ao exílio (a partir de 28 de Abril de 1959), na sequência da célebre carta que o ilustre prelado escrevera, no ano anterior, ao ditador Salazar a criticar diversos aspectos da realidade política, social, cultural e religiosa portuguesa de então.
D. Florentino de Andrade e Silva, administrador apostólico da Diocese do Porto na ausência do seu bispo titular, veio a nomeá-lo pároco de Aboim e Vila Garcia, paróquias de que tomaria posse no Domingo, 23 de Outubro de 1960. Curiosamente, o padre Monteiro da Costa, que não conhecia particularmente a região, tinha estado na freguesia de Aboim, ainda seminarista, em Agosto de 1955, por ocasião das exéquias do padre Carlos Preda da Rocha, o penúltimo pároco que o antecedeu e também o que se lhe segue em termos de maior longevidade (44 anos) à frente dos destinos da paróquia de Aboim.
A partir de Outubro de 1971, durante três anos lectivos, foi professor de Religião e Moral na Secção Liceal de Amarante do então Liceu Nacional de Guimarães. Por ocasião do 25 de Abril, integrou a primeira Comissão Directiva democrática da Secção Liceal e depois da Escola Secundária de Amarante, entretanto criada, onde continuou a leccionar até Agosto de 2001.
Em 1989, decorrente do precário estado de saúde do Padre João Marques, titular durante cerca de cinquenta anos das paróquias de Gatão e da Chapa, passou a colaborar estreitamente com aquele na paroquialidade destas duas freguesias e, a partir de 21 de Janeiro de 1994, exerceu as funções de administrador paroquial de ambas. Com o falecimento daquele sacerdote, seria nomeado, em 14 de Maio de 2001, pároco de Gatão e da Chapa, que passou a acumular com Aboim e Vila Garcia. Em Julho de 2012, deixou a titularidade da paróquia de Gatão, mas manteve a das paróquias de Aboim, Chapa e Vila Garcia.
Faleceu a 7 de Dezembro de 2017, no Hospital CUF do Porto. Presididas por D. António Taipa, actual administrador apostólico da Diocese do Porto, as Exéquias Solenes foram celebradas, dois dias depois, na Igreja de Chapa, e foi a sepultar em Rebordões, Santo Tirso.







17/08/2011

Moradores de Aboim, privilegiados das Tábuas Vermelhas

    Na última postagem mencionei os diversos privilégios que concediam aos caseiros, lavradores e moradores nas terras e coutos da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães numerosas e significativas isenções.
    Em 1455, o rei D. Afonso V mandou inquirir quantos e quais os caseiros e servidores desta Igreja que eram abrangidos por estes privilégios. O dito monarca confirmou então os respectivos privilégios, ficando esta relação e confirmações a constar de um livro próprio, com folhas de pergaminho e cobertas de couro vermelho, guardado no arquivo da Colegiada, e de uma correspondente lista ou tábua guardada na Câmara da Vila de Guimarães. Ficam estes beneficiários, a partir de então, a ser designados como privilegiados das tábuas vermelhas.
    Com o argumento de que, naquela data, o Couto de Aboim e Codeçoso ainda não integrava as propriedades da Colegiada (recorda-se que foi anexado em 1474) e, por isso, não consta do rol acima mencionado, modernamente há quem coloque em dúvida a qualidade de privilegiado das tábuas vermelhas do Couto de Aboim e Codessoso. Atrevendo-me a contrariar tal tese, afirmo peremptoriamente que o Couto de Aboim e Codeçoso era detentor desse privilégio, servindo-me das afirmações de três autores setecentistas, bem como de um outro testemunho da mesma época, que menciono a seguir.
Em 1706, o Pe. Antonio Carvalho da Costa, na sua Corografia Portugueza (vol. I, pág. 146), depois de se referir a Aboim e a Codeçoso, acrescenta que “faõ eftas duas Freguefias Couto das Taboas Vermelhas de Noffa Senhora da Oliveira, no qual fazem Juiz os Conegos de Guimaraens: o Efcrivaõ he hum dos de Cerolico de Bafto”.
    Por sua vez, em 1726, Francisco Xavier da Serra Craesbeek, nas Memórias Ressuscitadas de Entre Douro e Minho (vol. II, pág. 208), escreve que o “couto de Codeçozo fica dentro do destrito da villa de Basto, para a parte do Nacente, en terras muito asperas e montuozas, demarcado sobre si e previlegiado das taboas vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira, da Collegiada desta villa, cujos conegos nelle apresentão hum juis, veredor e procurador, com que se governa no civel, que no crime he da villa de Basto; e serve nelle um escrivão da villa de Basto, e tem a sua caza de audiencia na freguesia de Santo Andre”. O autor, que era corregedor da comarca de Guimarães, é habitualmente muito considerado pelo rigor que põe nas suas afirmações, mas ter-se-á enganado ao localizar em Codeçoso a Casa da Câmara, pois é sabido que esta se situava na freguesia de Aboim, no lugar do mesmo nome.
    Em 1747, também o Pe. Luiz Cardoso, autor do Diccionario Geografico (Tomo I, pág. 15), na notícia relativa a Aboim e que já se transcreveu integralmente neste blogue, referindo-se ao Couto de Abom e Codessoso, escreve que este “Governa-fe por hum Juiz ordinario, e mais officiaes da Camera, poftos pelo Cabido da Collegiada de Guimarães; e no deftricto de Cerolico de Basto he Couto, privilegiado com o privilegio das Taboas Vermelhas da mesma Senhora da Oliveira”.
    Por último, ainda que não mencionando expressamente os privilégios das tábuas vermelhas, é elucidativo o testemunho do Pe. Manoel Moreira, pároco de Aboim, o qual escreve, nas Memórias Paroquiais de 1758 (vol. I, n° 1, pág. 119 a 124, ANTT), que  “É Couto pertensente à Rial Collegiada da Senhora da Oliveira da villa de Guimararaens; os moradores do coal utilizanse de magnificos privilegios concedidos pellos Monarcas deste Reino à mesma Collegiada, cujo Cavido é o Senhor desta freguesia”. E, mais adiante, referindo-se às isenções de que beneficiam os seus moradores, menciona os “vexame de soldados, Éguas do Rei vulgarmente Coudellarias, fintas, desimas, e outras mais cousas tirando as sizas”.
    Julgo que, após o que venho escrevendo, não subsistirá qualquer dúvida, da parte de quem me lê, quanto à qualidade de privilegiado das tábuas vermelhas do Couto de Aboim e Codeçoso.
    Não restam dúvidas de que a extensão do privilégio das tábuas vermelhas aos moradores do couto de Aboim e Codessoso constituía uma excepção, a qual visava incentivar o povoamento, travar a desertificação humana de uma região demograficamente deprimida. Recorda-se que, já em meados do século XV, com o mesmo objectivo, tinha sido instituído um couto de homiziados no território de Celorico de Basto.

20/07/2011

Aboim e a Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães

  
    Já mencionei em postagem anterior que, durante a Idade Média, o território correspondente à actual freguesia de Aboim, integrando o Couto de Codeçoso, pertencia ao Mosteiro de Telões.
    Em 1474, reinava em Portugal D. Afonso V, o cónego João de Barros (1) anexou a Igreja de Telões à Real Colegiada da Nossa Senhora da Oliveira, de Guimarães, autorizado por breve do Papa Sixto IV (2) e confirmado pelo Arcebispo de Braga D. Luís Pires (3), no ano seguinte. Este “devoto e pio varão João de Barros, Cónego da Sé de Braga”, como o designa o Pe. António Carvalho da Costa na sua Corografia Portuguesa, tinha recebido o benefício da administração de Telões e de S. Gens de Montelongo (actual Fafe), em 1449, por mercê do Arcebispo de Braga, D. Fernando da Guerra (4).
    Desta maneira, a Igreja de Telões, as suas propriedades, incluindo o Couto de Codeçoso, e as suas capelas anexas de Aboim e Codeçoso, passaram a integrar o património da dita Colegiada, cujo Cabido passou a apresentar o reitor da paróquia de Telões (e, mais tarde, os curas das paróquias de Aboim e de Codeçoso) e a nomear o juiz e demais oficiais do Couto.
    Desde os alvores da Nacionalidade que a Colegiada de Guimarães, erigida entre as cinzas do anterior mosteiro duplex, fundado e dotado pela Condessa Mumadona (séc. X), concitou a protecção dos primeiros monarcas portugueses, sendo certo que D. Afonso Henriques foi padroeiro, protector e benfeitor desta igreja, tendo-lhe concedido amplos privilégios, isenções e liberdades, os quais eram extensivos aos seus priores, cónegos e demais servidores. Sucessivos monarcas, reconhecendo à Colegiada o direito dela conceder os referidos privilégios aos caseiros das suas terras, publicaram cartas e alvarás advertindo todas as autoridades do reino que respeitassem cumprissem e fizessem cumprir os mesmos privilégios
    Numa sociedade cujas classes populares eram sujeitas a pesados impostos, tributos e encargos, não eram de somenos importância estes privilégios, que concediam aos caseiro, lavradores e moradores nas terras e coutos da Colegiada numerosas e significativas isenções. Assim, estavam aqueles isentos, entre outros, dos arranjos dos caminhos, do pagamento de peitas, fintas e talhas, e sobretudo de servir no concelho. A que acresciam outras regalias como a dos bois, cavalgaduras, pão, vinho e palha dos lavradores não poderem ser tomadas pelos senhores, assim como os seus filhos ou filhas não poderem ser tomados para servidão de pessoas. Mais ainda, a isenção da guerra: os filhos dos lavradores não poderiam ser alistados no exército ou na armada, podendo até ser dispensados de irem aos alardos das Ordenanças.
    Nos primeiros anos do século XVIII foram ainda estes privilégios ampliados por D. João V, que os isenta de todos os tributos sólitos e insólitos, em que se compreendiam as décimas, não só a respeito das fazendas foreiras àquela Igreja, mas todas as mais que por qualquer título pertencessem aos privilegiados.

Notas:
(1) João de Barros, abade secular de Santa Maria de Adaúfe (Braga), criado e camareiro do arcebispo D. Fernando da Guerra, arcediago de Vermoim (Vila Nova de Famalicão), administrador de Telões (Amarante) e de S. Gens de Montelongo (Fafe). Refira-se que a sua elevação à dignidade de cónego e à de administrador de Telões e de S. Gens de Montelongo ocorreram quando era minorista, isto é, preparando-se para o sacerdócio, ainda não tinha sido ordenado, sendo portanto um clérigo apenas com Ordens Menores. A concessão destes benefícios era a fórmula encontrada pelo prelado bracarense para sustentar os membros da sua casa episcopal.
(2) Sixto IV (1414-1484), papa a partir de 1471, chamava-se Francisco delle Rovere e era franciscano. Praticou o nepotismo e protegeu as ciências e as artes. Foi mais príncipe do Renascimento do que chefe espiritual.
(3) D. Luís Pires, arcebispo de Braga entre 1468 e 1480. Nas Constituições sinodais do Arcebispado de Braga, de 1477, dava conta da degradação dos costumes nos conventos da sua jurisdição e, em especial, na vida comunitária
(4) D. Fernando da Guerrra (1383-1467), arcebispo de Braga entre 1417 e 1467. Sobrinho de D. João I, que o fez chanceler-mor, primeiro regedor das Justiças do reino e membro do conselho de estado, enquanto prelado empenhou-se na reforma do clero e na defesa dos direitos da sua arquidiocese.

18/02/2011

Um aboinense ferido na Guerra Colonial

   Julgo que foi Ernest Hemmingway, consagrado escritor norte-americano e laureado com o Prémio Nobel, quem afirmou que todas as guerras são criminosas. Completaram-se, no passado dia 4, cinquenta anos sobre o início da Guerra Colonial, uma guerra igualmente criminosa que o regime fascista, derrubado em 25 de Abril de 1974, manteve em África durante treze longos anos.
   Esses treze anos de confrontos exigiram o destacamento de 169 mil homens, maioritariamente jovens: 70 mil para Angola, 42 mil para a Guiné e 57 mil para Moçambique. Segundo a Resenha Histórico-Militar das Campanhas de de África (1961-1974), registou-se um total de 8 290 mortos, nas três frentes de guerra. A este número há a juntar 112 000 feridos, dos quais 30 mil terão sofrido deficiências para toda a vida, e perto de 100 mil vítimas do stresse de guerra, que ainda os apoquenta actualmente.
   Dos jovens aboinenses de então, se alguns, emigrando para o estrangeiro, se tornaram refractários para não participarem numa guerra que não era sua, outros houve que foram obrigados a combater nas ex-colónias portuguesas então em guerra. E se no regresso vinham todos – parafraseio deliberadamente o título do livro de Vasco Lourenço, um dos capitães do 25 de Abril - , um deles não escapou de ser ferido numa escarumuça na Guiné, em Junho de 1967. Trata-se de Manuel da Silva Moura, um amigo que, hoje com mais de 60 anos, entretanto emigrou para França, região parisiense, onde vive actualmente e goza de merecida reforma depois de ter trabalhado muitos anos na construção civil, nos últimos como encarregado de obras (chef de chantier).
   Com a expressa autorização do autor (a quem agradeço reconhecidamente) e com a devida vénia, transcreve-se a seguir o relato do acontecimento, narrado por quem o viveu de perto.

“S. Domingos, 27 de Junho de 1967
   Quando eram 13,20 h, foram ouvidos rebentamentos na direcção de Cassolol. O 3° Grupo de Combate da minha companhia que está destacado em Susana, imediatamente saiu em auxílio da população daquela tabanca. Ao chegarem ao local verificaram a existência  de um grupo IN disperso por Indiame, estando a população a reagir muito bem. Foi iniciada uma perseguição ao IN, obrigando-o a retirar até à bolanha de Catetia, revelando-se aqui em grande força. Calcula-se que o grupo IN seria constituído por cerca de 60 elementos armados de morteiros 60, Metralhadoras Pesadas, Metralhadoras Ligeiras e Pistolas metralhadoras. Com a chegada das NT, aumentou o contacto, mas não conseguiu progredir, devido à intensidade do fogo IN e à falta de munições que já começava a preocupar os nossos homens. Entretanto, cerca das 14 horas saiu de Susana um reforço das nossas tropas com Caç. Nativos, tendo chegado à bolanha de Catetia num momento crítico para as NT que tinham acabado de sofrer um ferido, com tiro numa perna. Dado que a intensidade do fogo não diminuía, e com a chegada de reforços, veio uma viatura ao aquartelamento para transportar o ferido, o soldado Manuel da Silva Moura, (um moço de Amarante) e reabastecer-se de munições. Este soldado pertence à secção do furriel miliciano Mário Silva, mais conhecido pelo “Girafa” por ser o mais alto da companhia. O contacto, prolongava-se com grande intensidade, mas a população e as NT respondiam com determinação, quando chegou um reforço de Varela às 15,45 horas. Entretanto, houve também um ferido da população que foi transportado ao quartel, e aproveitou-se para se fazer novo reabastecimento, quando ao fim de 3 horas o IN começou a ceder , após o envolvimento  das nossas forças, tendo sido perseguido até à fronteira. Diz-me o “Girafa”: “Quando entramos na bolanha, eu estava ao lado do Terruta. Como sabes, o morteiro não pode funcionar na bolanha, por não ter o prato de suporte.  Era a Basuca que entrava em acção, e nós víamos os gajos a dançarem na orla da mata. Eu dizia para o Terruta: É pá, será que os gajos estão bêbados, drogados, ou estarão a gozar connosco? E nós, agachados no meio da bolanha, indefesos, sem abrigos e desesperados. Então levantámo-nos todos, corremos  em direcção aos gajos, disparando, e eles fugiram”. Na minha modesta opinião,  acho que é um acto de heroísmo e valentia, que eu não sei se teria coragem de fazer. Mas a gente nessas ocasiões, faz tudo para salvar a pele. Vai buscar forças, nem que seja no Olimpo.
   Eram 18 horas, quando as nossas forças regressaram ao aquartelamento. Foi mais um dia de grande sofrimento, com peripécias à mistura, como aquela dos bêbados e drogados”.
Diário da Guerra Colonial – Guiné 1966-1968, Luís de Matos, Edição do autor, 2009, pág. 103-104

GLOSÁRIO (retirado do livro de Luís de Matos):
   Bolanha – Arrozais em geral rodeados de pequenas florestas.
   IN – Inimigo, os guerrilheiros do PAIGC
   NT – Nossas tropas
   Tabanca – Casa, palhota, conjunto de habitações dos negros. Este termo, também é utilizado para denominar as casas dos nossos militares.

NOTAS (de RLCerqueira):
   Nota 1: Os lugares e as povoações  de Cassolol, Suzana, Indiame, Catetia e Varela   integram o sector de S. Domingos, na região do Cacheu (actualmente a Guiné-Bissau divide-se administrativamente em regiões e sectores), localizando-se no noroeste do país, a pequena distância da fronteira com o Senegal. A luta armada na Guiné-Bissau foi iniciada em Julho de 1961 pelo Movimento de Libertação da Guiné (MLG), posteriormente prosseguida pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), com ataques às povoações de S. Domingos, Suzana e Varela, localidades onde também existiram aquartelamentos das tropas portuguesas, que actualmente se encontram em ruínas.
   Nota 2: Segundo Luís de Matos, o aboinense Manuel da Silva Moura, com a especialidade de soldado atirador, serviu na ex-colónia da Guiné entre 1966 e 1968, integrando a secção chefiada pelo Furriel Miliciano Mário Manuel F. Cardoso Silva, que pertencia ao 3° Pelotão dirigido pelo Alferes Miliciano Júlio Morgado Rodrigues, da Companhia de Caçadores n° 1590 comandada pelo Capitão Aires Jorge Costa Gomes, pertencendo esta ao Batalhão de Caçadores n° 1894.
   Nota final em jeito de apelo: Agradece-se a quanto nos lêem que nos forneçam informações sobre aboinenses que participaram na Guerra Colonial, indicando-nos o nome, a ex-colónia onde serviram e as respectivas datas. O administrador deste blogue manifesta-se desde já muito grato.

25/11/2010

D. Manuel Vieira Pinto: o mais ilustre dos aboinenses

     Manuel da Silva Vieira Pinto, filho de José António Vieira Pinto, proprietário, e de Laurinda da Silva, doméstica, nasceu às 5:10 horas da manhã de Domingo, 9 de Dezembro de 1923, no lugar de Sanguinhedo, na freguesia de Aboim.
     Tendo feitos os estudos no seminário da Diocese do Porto, foi ordenado presbítero, na Sé Catedral do Porto, em 7 de Agosto de 1949. No dia 15 de Agosto seguinte, na Igreja Paroquial de Aboim, celebrou a sua Missa Nova.
     Iniciou a sua actividade pastoral como coadjutor da paróquia de Campanhã, tendo sido depois assistente diocesano nas diversas associações da Acção Católica e director espiritual do Seminário de Vilar.
     Anos depois foi para Roma, onde conhece o famoso Padre Lombardi, fundador do Movimento por Um Mundo Melhor, do qual virá a ser responsável no nosso país entre 1960 e 1967.
     A 27 de Abril de 1967, o Papa Paulo VI nomeou-o Bispo de Nampula, em Moçambique. A 29 de Junho, na Igreja da Trindade, no Porto, uma “imensa multidão de fiéis assistiu à sagração episcopal de D. Manuel Vieira Pinto”, anunciava o jornal católico Novidades. Dois dias passados, a 2 de Julho, foi solenemente recebido na Igreja Paroquial da sua aldeia natal, a freguesia de Aboim, que então festejava S. Pedro, o padroeiro local.
     Tomou posse da diocese de Nampula em 24 de Setembro desse mesmo ano. Nesse período escreveu diversas cartas pastorais e uma razoável quantidade de reflexões socio-políticas baseadas nos acontecimentos que então se desenrolavam em Moçambique, e de que se destacam «Caminhos de novas estruturas missio-pastorais», «Na hora da viragem» e «Das missões à Igreja local».
     Mas os documentos que maior influência tiveram na vida política, social e religiosa da sua diocese e de Moçambique, foram «Repensar a guerra» (Janeiro de 1974) e «Imperativo de consciência» (12 de Fevereiro de 1974) - assinado pelo Bispo e pelos missionários combonianos a trabalhar no Norte de Moçambique (34 padres, 19 irmãos e 41 irmãs).
     Aquelas cartas pastorais, o seu firme posicionamento em defesa dos direitos das populações autóctones, a condenação do colonialismo e da guerra colonial, a defesa do direito à autodeterminação do povo moçambicano, valem-lhe a expulsão de Moçambique, a 14 de Abril de 1974, tendo-lhe sido fixada residência no Cartaxo.
     Nos primeiros dias após o 25 de Abril de 1974, o General António Spínola convidou-o a integar o Conselho de Estado, o que recusa.
     Regressado a Moçambique, foi eleito Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM), em 1 de Janeiro de 1975.
     No Moçambique pós-independência, continuou a bater-se pela dignidade, pelos direitos e pelas liberdades do povo moçambicano. Nesse contexto, teve várias entrevistas com dirigentes do país, incluindo os Presidentes Samora Machel e Joaquim Chissano.
     Lutou por todos os meios ao seu alcance pelo fim da guerra entre a Frelimo e a Renamo, cujas atrocidades denunciou publicamente. Em Maio de 1984, numa entrevista com o Presidente Samora Machel, falou-lhe abertamente da guerra civil fratricida e propôs-lhe o início urgente de negociações políticas com a Resistência.
     Ainda que discretamente, teve um importante papel no processo de mediação e das negociações para a paz em Moçambique. Mesmo depois de realizado o processo eleitoral em Moçambique, encontrou-se com Afonso Diakhama a fim de garantir a aceitação dos resultados eleitorais por parte da Renamo, com o sentido de preservar a paz a todo o custo.
     Por ocasião da Homenagem Nacional que lhe foi promovida no Porto, a 31 de Outubro de 1992, pelo Presidente da República Dr. Mário Soares, seria agraciado com a Ordem da Liberdade.
     Em 21 de Novembro de 1992, a Câmara Municipal de Amarante atribuiu-lhe a Medalha de Ouro do Município.
     De Dezembro de 1992 até Janeiro de 1998 exerceu as funções de Administrador Apostólico de Pemba (antiga Porto Amélia), em Moçambique.
     No ano de 1995 e seguintes, tem uma acção destacada na instalação da Universidade Católica em Moçambique, a cuja direcção pertencerá.
     Arcepispo resignatário da Arquidiocese de Nampula, com o título de Arcebispo Emérito, desde 16 de Novembro de 2000.
     Em 8 de Dezembro de 2003, por ocasião do seu 80º aniversário, foi homenageado na sua terra natal – Aboim (Amarante), por iniciativa do periódico local “Jornal da Terra”. No acto, foi descerrada uma placa comemorativa na casa onde nasceu e o seu nome foi atribuido ao Largo defronte da Igreja Paroquial de Aboim.
     Idoso e doente, actualmente reside na Casa Sacerdotal da diocese do Porto, na mesma cidade.
         
     Pode escutar aqui uma das ultimas entrevistas de D. Manuel Vieira Pinto, concedida ao programa “Grande Júri” da rádio TSF, a 9 de Março de 2002.

10/11/2010

Como é a sua graça?

     Antiga expressão, actualmente caída em desuso, “como é a sua graça?” era uma forma de perguntar a alguém o seu nome.
     Claramente por influência das telenovelas brasileiras, são hoje vulgares os nomes Bruno, Cátia, Fábio, Leandro, Márcio, Sónia,Tiago, Vanessa...
     Como é bom de ver, a actual onomástica aboinense não foge à regra e, a esse propósito, vem-me à memória um sucesso musical do António Variações, popularizado pelo “Humanos”, que a determinado momento diz: “Maria Albertina como foste nessa / de chamar Vanessa à tua menina”.
     O que motiva a presente postagem é revelar quais os nomes dados aos seus filhos pelas famílias aboinenses no período compreendido entre 1655 e 1700.
     Recorda-se que, por normativo do Concílio de Trento (1545-1563), estabeleceram-se em todas as paróquias os registos baptismais, que exigiam a adopção de um sobrenome, ou nome de família, e que o nome de baptismo teria de ser um nome cristão, de santo ou santa.
     Veja-se então, no quadro abaixo, quais os nomes preferidos pela população de Aboim para os seus filhos e filhas nesses recuados tempos, na segunda metade do século XVII.

     Verifica-se, portanto, que uma pessoa nascida nesse tempo, se fosse rapaz, chamar-se-ia predominantemente Manuel, João, António ou Domingos. Se fosse rapariga, as preferências iam dominantemente para Maria - o que revela o fervor religioso da população e a importância do culto mariano - e, só depois, para Catarina, Domingas, Isabel ou Luísa.

15/06/2010

Constituição Liberal jurada em Aboim

   Em 6 de Novembro de 1822, as autoridades constituídas no Couto de Aboim e Codessoso reuniram-se na Igreja Matriz de S. Pedro de Aboim e aí juraram a Constituição Política da Monarquia Portuguesa, em cerimónia solene celebrada pelo Pároco de Aboim, Pe. Manoel Ribeiro Teixeira.
   Para além do já mencionado Pároco de Aboim, do Pároco de Codessoso, Pe. Domingos José da Silva Campelo, e do Escrivão da Câmara e Cível, Manoel de Sousa, participaram no acto e assinaram o respectivo auto as seguintes individualidades e notáveis das freguesias de Aboim e de Codessoso: Domingos da Mota, Juiz; Francisco Dias da Silva, Juiz Substituto; João Coelho, Vereador Presidente; Manoel José da Silva, Vereador; Joaquim de Andrade, Vereador; José Lopes, Vereador Substituto; Manoel Joaquim da Silva, Vereador Substituto; Manoel António da Fonseca, Procurador; João Luiz da Mota, Procurador Substituto; e o Pe. António Teixeira de Carvalho, ex-Pároco de Aboim, que o fora durante 20 anos.

Tempos de mudança

   Cerca de mês e meio antes (23 de Setembro), com o acto formal da assinatura pelos deputados das Cortes Constituintes, em Lisboa, terminava a elaboração da Constituição Política da Monarquia Portuguesa. Uma Constituição bastante progressista para a época, que se afasta frontalmente do regime absoluto, ao instituir o sistema de poderes tripartido que ainda vigora actualmente (poder executivo: rei e ministros; poder legislativo: cortes; poder judicial: tribunais), ao prever ainda a liberdade individual e a livre expressão de pensamento, a igualdade de todos os cidadãos perante a lei, a supremacia das Cortes legislativas, eleitas por sufrágio universal e directo (de que eram, porém, excluídos os analfabetos, as mulheres e os frades) e a defesa da monarquia, com óbvia redução dos poderes do rei, o qual não podia interferir no funcionamento das Cortes e muito menos suspendê-las ou dissolvê-las.
   Lembro aqui que as Cortes Constituintes, para além da elaboração e promulgação da Constituição de 1822, em apenas vinte meses de trabalhos realizaram uma extensa e notável obra legislativa, revelando que os seus deputados tinham consciência das reais necessidades de modernização das estruturas sociais do País. É especialmente importante o decreto que extinguiu os serviços pessoais feitos por imposição de foral, graça régia, posse imemorial, direito dominial e enfitêutico, e bem assim os chamados direitos banais (obrigação de moer o trigo, cozer o pão, fazer o vinho ou o azeite em lagar do donatário), os privilégios de boticas e estalagens, as obrigações consistentes em frutos, dinheiros, aves e presuntos impostos a favor dos senhorios, e todos os privilégios que obstassem ao livre comércio e circulação das mercadorias. Foram extintos os serviços penais, declarada a liberdade de ensino, extinguiram-se os privilégios da Companhia de Vinhos do Alto Douro relativos a aguardentes e foram suprimidas as coudelarias, os privilégios de aposentadoria, o Juízo da Inconfidência, as leituras prévias do Desembargo do Paço. Valor simbólico teve a supressão da Inquisição, votada por unanimidade em 24 de Março de 1821, decorridos quase três séculos sobre a sua introdução em Portugal.

Porquê na Igreja e não na Casa da Câmara?

   Esta interrogação já a tinha feito num artigo sobre o assunto e publicado no “Jornal da Terra” há anos. De facto, não me espantava o acto político aliado à cerimónia religiosa, relatado na abertura da presente nota histórica. A própria Revolução Liberal, no Porto, em 24 de Agosto de 1820, consistiu numa parada militar, na leitura de uma proclamação e… na celebração de uma missa.
   O que me surpreendia é que aquele acto tivesse tido lugar na Igreja Paroquial de Aboim em vez de ser realizado na Casa da Câmara do Couto de Aboim e Codessoso (então um vetusto e provavelmente modesto edifício no lugar de Aboim, localizado nas proximidades do que é actualmente a oficina do Zé Manel Carvalho), onde posteriormente se realizariam actos similares e com a mesma categoria de intervenientes.
   Sabe-se que, na época, a actual Igreja Paroquial de Aboim era de construção muito recente, pois é referido num documento, do mesmo ano, que a paróquia "tem Igreja nova e de boa arquitectura; não tem sacrário de que precisa muito por ficar muito distante das Igrejas que o tem". Assim, é perfeitamente natural que a nova Igreja oferecesse muito melhores condições para a celebração de tal acto do que as exíguas instalações dos já mencionados Paços do Concelho de Aboim e Codessoso.
   Efectivamente, a celebração deste acto solene na Igreja Paroquial resultava de uma imposição legal, pois, por Decreto datado de 11 de Outubro de 1822 e publicado no Diário do Governo n.º 245, de 17 do mesmo mês, estabelecia-se que no primeiro Domingo de Novembro (dia 6) fosse celebrada uma missa solene na igreja principal de cada localidade e aí fosse jurada a Constituição Política da Monarquia por todos os empregados públicos, eclesiásticos, civis e militares e “que todo aquele que sendo obrigado pelo referido Decreto a prestar o dito Juramento se recusar a cumprir com tão Religiozo dever, perca a qualidade de Cidadão, e saia imediatamente do Territorio Portuguez”.
   Como se vê, as autoridades civis e religiosas do Couto de Aboim e Codessoso cumpriram com zêlo e diligência a ordem proveniente de Lisboa, a qual, como é sabido, somente não seria acatada pela rainha D. Carlota Joaquina, com as funestas repercussões que viria a ter no futuro.